Aqui colocarei um pouco dos meus pensamentos e muito dos meus sentimentos. Escrevo pra mim, sem me preocupar com erros gramaticais ou de concordância. Mas quem quiser compartilhar e opinar que seja bem vindo(a)!!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Inspiração

Hoje quando liguei a TV passava um filme na seção da tarde em que o tema era don't know why de Norah Jones. http://www.youtube.com/watch?v=paHlDr7kXIo
Lembrei que durante muito tempo escutava essa música e claro que rapidinho vim procurar o clip. Não fazia ideia da tradução, é triste.... :(
Ontem estava lendo que os grandes artistas, pintores, compositores e todos ligados a artes são pessoas que produzem mais beleza quando estao com o coração em sofrimento.
Acho que a alma se emancipa, se desliga das coisas da matéria. O sofrimento na maioria das vezes nos aproxima das coisas espirituais, de Deus....
Já constatei que é verdade.
Aleijadinho é um grande exemplo, falando nele a historia de sua vida é digna de ser lida. Poucas pessoas sabem que ele foi uns dos principais Inconfidentes e que muito contribuiu para nossa libertação perante Portugal. No livro Confidencia de um Inconfidente de Marilusa Moreira Vasconcellos ( Foi um dos melhores livros que já li) narra com bastante realismo e emoção toda jornada e sofrimento não só de Aleijadinho mas como também de Tomás Antonio Gonzaga. Falando nele tb, quem nao lembra da Marilia de Dirceu? (Xiiiiiii acho que poucos) Mas na verdade ele era o Dirceu que além de escrever as famosas Cartas Chilenas, fazia poemas lindíssimos para sua amada Maria Dorotéa Joaquina de Seixas a qual chamava de Marilia. Infelizmente por força do destino esse amor nunca se concretizou. Mas o sofrimento o fez criar poemas lindos.
Ganhei o livro Marilia de Dirceu de minha mãe uns 15 anos atras, ela sabia que eu o queria muito.
Quem ler a vida deles o sofrimento de ambos, com certeza irá admirar mais ainda os poemas.
Essa capa é da edição de 1824

Lira IV

Marília, teus olhos
São réus, e culpados,
Que sofra, e que beije
Os ferros pesados
De injusto Senhor.

    Marília, escuta
    Um triste Pastor.

Mal vi o teu rosto,
O sangue gelou-se,
A língua prendeu-se,
Tremi, e mudou-se
Das faces a cor.

    Marília, escuta
    Um triste Pastor.

A vista furtiva,
O riso imperfeito,
Fizeram a chaga,
Que abriste no peito,
Mais funda, e maior.

    Marília, escuta
    Um triste Pastor.

Dispus-me a servir-te;
Levava o teu gado
À fonte mais clara,
À vargem, e prado
De relva melhor.

    Marília, escuta
    Um triste Pastor.

Se vinha da herdade,
Trazia dos ninhos
As aves nascidas,
Abrindo os biquinhos
De fome ou temor.

    Marília, escuta
    Um triste Pastor.

Se alguém te louvava,
De gosto me enchia;
Mas sempre o ciúme
No rosto acendia
Um vivo calor.

    Marília, escuta
    Um triste Pastor.
Se estavas alegre,
Dirceu se alegrava;
Se estavas sentida,
Dirceu suspirava
À força da dor.
    Marília, escuta
    Um triste Pastor.

Falando com Laura,
Marília dizia;
Sorria-se aquela,
E eu conhecia
O erro de amor.

    Marília, escuta
    Um triste Pastor.

Movida, Marília,
De tanta ternura,
Nos braços me deste
Da tua fé pura
Um doce penhor.

    Marília, escuta
    Um triste Pastor.

Tu mesma disseste
Que tudo podia
Mudar de figura;
Mas nunca seria
Teu peito traidor.

    Marília, escuta
    Um triste Pastor.

Tu já te mudaste;
E a faia frondosa,
Aonde escreveste
A jura horrorosa,
Tem todo o vigor.

    Marília, escuta
    Um triste Pastor.

Mas eu te desculpo,
Que o fado tirano
Te obriga a deixar-me;
Pois basta o meu dano
Da sorte, que for.

    Marília, escuta
    Um triste Pastor.


Lira XVII

Minha Marília,
Tu enfadada?
Que mão ousada
Perturbar pode
A paz sagrada
Do peito teu?

    Porém que muito
Que irado esteja
O teu semblante!
Também troveja
O claro Céu.

Eu sei, Marília,
Que outra Pastora
A toda hora,
Em toda a parte
Cega namora
Ao teu Pastor.

    Há sempre fumo
Aonde há fogo:
Assim, Marília,
Há zelos, logo
Que existe amor.

Olha, Marília,
Na fonte pura
A tua alvura,
A tua boca,
E a compostura
Das mais feições.

    Quem tem teu rosto
Ah! não receia
Que terno amante
Solte a cadeia,
Quebre os grilhões.

Não anda Laura
Nestas campinas
Sem as boninas
No seu cabelo,
Sem peles finas
No seu jubão.

    Porém que importa?
O rico asseio
Não dá, Marília,
Ao rosto feio
A perfeição.

Quando apareces
Na madrugada,
Mal embrulhada
Na larga roupa,
E desgrenhada
Sem fita, ou flor;

    Ah! que então brilha
A natureza!
Estão se mostra
Tua beleza
Inda maior.

O Céu formoso,
Quando alumia
O Sol de dia,
Ou estrelado
Noa noite fria,
Parece bem.

    Também tem graça
Quando amanhece;
Até, Marília,
Quando anoitece
Também a tem.

Que tens, Marília,
Que ela suspire!
Que ela delire!
Que corra os vales!
Que os montes gire
Louca de amor!

    Ela é que sente
Esta desdita,
E na repulsa
Mais se acredita
O teu Pastor.

Quando há, Marília,
Alguma festa
Lá na floresta,
(Fala a verdade)
dança com esta
o bom Dirceu?

    E se ela o busca,
Vendo buscar-se
Não se levanta,
Não vai sentar-se
Ao lado teu?

Quando um por outro
Na rua passa,
Se ela diz graça,
Ou muda o gesto,
Esta negaça
Faz-lhe impressão?

    Se está fronteira,
E brandamente
Lhe fita os olhos,
Não põe prudente
Os seus no chão?

Deixa o ciúme,
Que te desvela:
Marília bela,
Nunca receies
Dano daquela
Que igual não for.

    Que mais desejas?
Tens lindo aspecto;
Dirceu se alenta
De puro afeto,
E pundonor.

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